sexta-feira, 2 de julho de 2010

Redes sociais – comportamento, maturidade e oportunidades na escola


Em 18/06/2010 participei do seminário Info@trends – a nova realidade tem voz - produzido pela editora Abril, reunindo educadores, políticos, publicitários, administradores, jornalistas, blogueiros, para discutir o impacto das redes sociais no comportamento de pessoas e empresas.
Aparentemente, ainda há muita especulação, dúvidas e questionamentos sobre como aproveitar-se das redes sociais para usos efetivos em publicidade, comunicação, campanhas políticas, divulgação de eventos, comércio,..... portanto, devemos nos permitir também muitas duvidas no que tange ao papel destas redes nos processos educacionais. Duas verdades aparecem de forma muito cristalina ao analisarmos todo este contexto e me permito aqui compartilhá-las com o leitor:

1. Novo comportamento digital – é capital a compreensão por parte dos educadores do poder de mobilização que os computadores exercem sobre toda uma geração ( arrisco dizer que todos abaixo dos 30 anos), uma geração que quando está na frente de um computador é capaz de entreter-se sem limite, de forma compulsiva, independente do local onde esteja e que parece capaz de manter sua atenção voltada a tudo que acontece a sua volta enquanto “navega” freneticamente. No seminário havia centenas destes jovens, em sua maioria analistas ou gerentes da área de comunicação ou marketing de grandes empresas. Eles assistiam as palestras enquanto navegavam, clicavam, comunicavam-se, twitavam, mandavam emails, trabalhavam, tudo ao mesmo tempo, numa digitação frenética, e tudo na maior tranquilidade. Era como se a conversa no palco fosse musica de fundo, tema para trabalhar ou se comunicar. Se alguém já visitou a Campus Party, mega encontro de internautas intensos anualmente hospedado aqui em São Paulo veria este comportamento ainda mais potencializado. Insano ou real, produtivo ou superficial, dificil julgar, mas o processo cultural parece bem maduro. Tenho amigos, profissionais maduros, capazes de produzir uma dezena de posts diários no twitter retroalimentando toda uma cadeia de outros profissionais com pitadas de conhecimento, humor e cultura e fazem isto naturalmente, diariamente, cotidianamente enquanto continuam vivendo suas vidas (e trabalham, tem filhos, maridos, cachorros, ....). Escrevem quando assistem o jogo do Brasil, quando chegam do cinema, quando estão no restaurante, quando acabam de ler um livro interessante,.... Será que este comportamento é mesmo inexorável, ou seja se instalará em todos nós? Se fizermos um corte rápido para nossos cenários escolares, veremos nossos adolescentes diante da mesma compulsão – podem ficar horas sentados manipulando 2 ou 3 destes equipamentos de publicação, comunicação, e entretenimento ao mesmo tempo e ainda manter um olho no que vem da TV ou do mundo atômico. Continuam conversando com os amigos que acabaram de ver, com os que estão ao seu lado e com outros que nunca viram. Se os deixamos livres com seus celulares na sala de aula são capazes de navegar e conversar por baixo das carteiras enquanto nos degladiamos buscando capturar sua atenção ( sugiro debruçarmo-nos atentamente sobre o tema agora objeto de pesquisa acadêmica – a economia da atenção – sugiro leitura leve e inicial sobre o tema no link http://www.digitalhumanities.org/dhq/vol/3/2/000049/000049.html).
Será que devemos acreditar que eles podem produzir mais se liberados a fluírem em suas formas naturais de comunicação, ou seja, se os deixarmos utilizar livremente seus instrumentos de comunicação? Conseguiremos cooptá-los, planejando colocar seus brinquedinhos a serviço dos nossos objetivos curriculares? Poderia ser uma estratégia didática utilizarmos os celulares para projetos em sala de aula, oficializando assim este instrumento tão versátil, ou será melhor banirmo-los das salas de aula? Qual nosso papel diante deste enorme desafio? Como conscientizar nossos futuros cidadãos a se apropriarem de forma equilibrada destas tecnologias?

2. O poder do indivíduo, do cidadão – outra constatação importante que fiz neste seminário, foi a de que as redes sociais dão poder (empowerment) ao cidadão comum, ou seja, dão-lhe vez e voz. Pela primeira vez, no caso da transmissão da copa do mundo, o cidadão pode mandar o Galvão Bueno calar a boca ( ele ouviu e reagiu). As empresas têm hoje nas redes possibilidades de ouvir seus clientes e não clientes numa escala e com uma agilidade nunca antes possíveis. Estes clientes estarão formando opinião para a produção e readequação de produtos e serviços numa dinâmica inédita no processo de produção. Uma opinião mal dada, um erro de ortografia, um equivoco menor leva hoje uma celebridade à lona em algumas horas. Um poder ao individuo que fala e é ouvido. E isto amadurece rápido, tanto que empresas, agencias de publicidade, veículos de mídia, políticos entre outros debruçam-se sobre este fenômeno para capturar mais e melhores resultados. O indivíduo que tem uma boa idéia hoje pode empreender e transformar sua idéia num negócio com pouca intermediação. Nunca tivemos acesso aos meios de produção e comercialização de maneira tão simples e direta. E nós, aqui na escola, o que podemos tirar disto tudo? Como isto impacta nossos resultados? Vamos primeiro analisar o aluno e seu novo poder (sua voz sendo ouvida). Ele pode querer escolher mais e melhor o que consumir em seu cardápio curricular. Ele pedirá por uma politica mais abrangente, onde seus interesses sejam ouvidos e atendidos. Estamos preparados para este currículo plural? Nossos currículos vão dar conta deste desafio? Vamos ter de ser muito mais significativos para o aluno do que somos. Vamos olhar agora para o professor empreendedor. Quando nos afastamos da escola, será que o futuro apontará para professor publicando-se diretamente para seus alunos? Se pensarmos hoje nos e-readers e na revolução que esta leitura digital poderá trazer, percebe-se que é possível termos no mercado editorial uma quebra de paradigma semelhante a que aconteceu no mercado fonográfico. Autores publicando-se diretamente, sem editora, chegando diretamente ao seu leitor. E o professor? Este também poderia publicar seu curso num ambiente de EaD e chegar diretamente a seus alunos? Que tipo de empresas surgirão para atender a um mercado que buscará educação continuada vitaliciamente em frações, sob medida a seus interesses? As editoras entrarão no mercado universitário, publicando bons conteúdos em EaD? O aluno amadurecerá para as opções que terá de tomar constantemente? Perceba que a regulação deste mercado, pelo menos no ensino superior terá de sofrer muitas modificações.

Considere estas indagações como provocação para uma reflexão profunda e de longo alcance sobre os desígnios do processo educacional formal, em busca de uma escola que responda as necessidades de uma sociedade em transformação.

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