sexta-feira, 26 de março de 2010

O uso das Redes Sociais transforma a aprendizagem?

Escrevi um artigo para uma revista especializada respondendo a questão acima. Transcrevo a resposta aqui para nossa reflexão.

Minha resposta é que ainda não sabemos o impacto desta transformação cultural na aprendizagem formal. Tampouco conseguimos modificar as estruturas de ensino formais a partir do uso destas ferramentas. A escola, como organismo social conservador e estável, absorve-as e as transforma em mais do mesmo.


Aposto firmemente nas perspectivas abertas pela Web 2.0, quando a tecnologia coloca o usuário no centro do processo de produção do conhecimento. Jamais foi tão fácil publicar-se, fazer-se ouvir, comunicar-se em escala global como hoje, a partir do advento de ferramentas cada vez mais interessantes.

Tenho estabelecido com os professores da escola um diálogo permanente na reflexão sobre as competências que se abrem nesta nova direção, tais como a capacidade autoral, o compartilhamento contínuo de atividades e produção, a intervenção no trabalho do outro, entre outras.

Implantamos e capacitamos os professores do colégio na utilização de ambientes como WordPress e Blogger ( montamos um servidor exclusivo do Wordpress para a comunidade do colégio), de wikis ( usamos Wikispaces e PB Wikis em diversos projetos), Diigo para conpartilhamento de links interessantes, Think.como como ambiente de trabalho coletivo na educação fundamental 1 ( até 5º. Ano), Slideshare para divulgação de apresentações para o coletivo, Youtube para publicação de vídeos, Moodle para publicação e trabalhos conjuntos fora da escola,...

Ao longo dos últimos 3 anos pilotamos com os professores dezenas de projetos envolvendo tal ferramental, em todos os níveis e conteúdos.

Minha constatação hoje, refletindo sobre esta trajetória, é a de que os projetos, salvo exceções, tendem a utilizar este ferramental de forma convencional, aplicando as mesmas premissas dos projetos “analógicos” no ambiente digital.

Por exemplo, usa-se um blog para que o aluno faça um intercambio com alunos de outro país num programa de ensino de língua estrangeira. Muito bom. Oportunidade para mobilizar a atenção e o interesse dos alunos, ampliação do vocabulário, prática concreta com falantes da língua,... O que obtemos é no máximo os alunos trabalhando uma vez por semana, em grupo, no laboratório de informática, lendo e comentando as publicações de seus colegas remotos, aguardando o professor corrigir o seu texto no Word, muitas vezes o próprio professor é que publica, numa atividade que rouba a espontaneidade e provoca pouca expansão lingüística. Se eles mandassem e recebessem cartas via postal daria no mesmo.

Como exceções, poderia citar alguns projetos em que o professor distribui a responsabilidade pelos objetivos da aprendizagem com seus alunos, num exercício constante de metacognição, onde os instrumentos digitais servem para fermentar as discussões preparatórias para uma aula mais expositiva, antecipam leituras, estimulam a cooperação e o compartilhamento..... São projetos abertos, de conclusão imprevisível, que normalmente valem mais pelo processo do que pelo produto, que exigem flexibilidade de professor, aluno e da instituição.

Será preciso construir práticas realmente reflexivas na educação formal para agregarmos algum valor nas práticas convencionais, ou seja, será preciso que se produzam experiências que de fato absorvam o professor e o aluno em diversos momentos do ano escolar, ampliando os limites do já criado. Será preciso que o professor e a instituição dispam-se de seus objetivos previamente estabelecidos e mergulhem nestas novas experiências sem preconceitos e com mais liberdade.

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